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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Música num instante...


Hoje ouvimos música de altíssima qualidade sem pagar quase nada por isso. Ah, sim, você faz download pela internet de musicas sem pagar nada? Não paga nada naquele momento, mas paga a conexão – se usa alguma rede pública, não se esqueça de que você paga impostos (qualquer outra forma ilícita de não pagar não será contemplada, portanto, se você rouba do seu vizinho, desculpe) –, comprou um computador ou “aluga” um e, principalmente, perde um tempo procurando até conseguir o inicio do recebimento (time is money!).
De posse dessa música extraordinária, imortal, que você quase não pagou nada, é hora de achar um lugar mágico para ouvi-la. Ao contrario de “antes” agora só os seus ouvidos não bastam. Lá vamos nós gastar dinheiro para adquirir um tocador de musica MP3 (a letra “m” não tem nada a ver com music!), que não é lá tão barato. 
Agora sim, é possível escutar uma voz, ou várias, que um certo dia gravaram, junto com o som de instrumentos, e agora essas pessoas não existem mais, assim como esse momento que passou, e nós estamos ouvindo a música enquanto subimos um morro alto e nos deparamos com uma vista impressionante. E não falamos. Tudo que ouvimos vem dos fones em nossos ouvidos, pois não temos palavras para descrever o que estamos sentindo. Mas estamos juntos, compartilhando esse momento que é único, pois não volta. E a música imortal que soa em nossos ouvidos nos faz pensar que estamos sendo influenciados por ela, que na verdade o momento não é tão sensacional assim, muito menos único. Aí lembramos que isso é o que menos importa, e o que você está ouvindo também pertenceu a um outro momento único. Então, de certa forma, você (re)vive um momento único, junto com o momento único atual.

domingo, 17 de outubro de 2010

Mafalda

  

Acho a Mafalda demais! =D

Nietzsche e o eterno retorno


"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderias: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"

NIETZSCHE, Aforismo 341, Gaia Ciência (1882)




quinta-feira, 14 de outubro de 2010

É tudo uma questão de contexto e ponto de vista!

Quem nunca observou uma cena e teve absoluta certeza do que se tratava?
E quem nunca errou de maneira absurda ao fazer uma interpretação de um "fato" observado?

Eu já. E não foram poucas vezes. Já achei que uma amiga estava sendo traída; que minha irmã estava escondendo um grande segredo; que estavam falando mal de mim; que eu não era bem vinda; que um assalto estava acontecendo; que alguém precisava urgentemente ser ajudado; e já errei em todas essas vezes.

O problema é que geralmente não estamos a par do contexto dessa situação que estamos observando, chegamos no meio, ou no fim, e a chance de acertarmos é pequena. Aquela pessoa que está forçando a porta do carro pode ter perdido a chave. O namorado da sua amiga pode estar sendo extremamente carinhoso com a....irmã dele! Ou até mesmo a mãe! Cuidado pra não sair fofocando! Contexto é tudo! E o ponto de vista??? Significa que depende de quem vê!!! Eu vejo uma pessoa jogando lixo no chão e ficou louca, mas isso não quer que todas as pessoas até mesmo irão perceber o ato de jogar lixo no chão. A minha visão de mundo, junto com a minha criação e formação, me leva a observar e a interpretar de uma maneira diferente que qualquer pessoa que nao tenha exatamente a mesma criação e formação que eu, ou seja, simplesmnte todas as pessoas do mundo!
Não é lindo perceber que somos únicos no mundo?

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Filme: As Horas - "o que significa arrepender-se quando não se tem escolha?"

Olá! Escrevo abaixo algumas das minhas percepções sobre este incrível filme protagonizado por Nicole Kidman, Julianne Moore e Meryl Streep, um longa americano de 2002, dirigido por Stephen Daldry, baseado no livro "As horas", de Michael Cunningham. 
Laura Brown é uma dona de casa grávida e já mãe de um menino que mora em Los Angeles, no período pós-primeira guerra mundial, em 1951. No decorrer do filme, ela planeja uma festa de aniversário para o marido e não consegue parar de ler o livro Mrs. Dalloway.
Uma das cenas mais interessantes do filme é a conversa que Laura tem com uma amiga sua, provavelmente também sua vizinha de bairro, Kitty. Laura é criticada por não conseguir fazer um bolo de maneira satisfatória, coisa que “qualquer mulher consegue fazer”, segundo Kitty.
Logo elas começam a conversar sobre seus maridos, pois o motivo do bolo é o aniversário de Dan, marido de Laura. Ela parece necessitar dizer para si mesma que ele é um bom marido e que ela deveria ter a felicidade plena. O fato de os maridos terem voltado da guerra – e que, portanto, sofreram com as dificuldades que passaram – faz com eles as mereçam, e tudo aquilo que os rodeia.
Será que para Laura, então, se seu marido nunca houvesse estado na guerra, ele não merecia a vida que tinha? Ou será que o que ele não merece é ter a vida de Laura por inteira?
Querer não é mais importante para ela, que simplesmente aceita que estar casada é assim. Tem uma função, que é cuidar de alguém que merece tudo que tem, e fazê-lo feliz.
A personagem está lendo o livro de Virginia Wolf, “Mrs. Dalloway”, cuja protagonista, segundo ela, por ser uma anfitriã muito confiante, todos pensam que ela está bem. Assim como Laura, que na verdade não precisa ser feliz – mesmo que seu marido também tenta essa intenção – mas precisa demonstrar uma postura confiante de que é, para que os outros pensem que ela está bem.
No final, Laura define como “ter sorte” a vontade tão grande de Mrs. Dalloway  em ter um filho. “você quis tanto um filho. É uma mulher de sorte.”
A personagem nos dá a entender que querer construir uma família não é uma opção, e que quando uma mulher quer realmente isso para sua vida, ela tem sorte. Caso contrário, viverá uma vida indesejada, talvez até o fim, ou talvez não agüente, e não lhe reste outra opção que não seja abandonar tudo, mesmo que isso envolva não viver: “tem momentos em que você não se sente parte ( da condição de mulher que é imposta) e pensa que precisa se matar”. Laura tenta se matar, mas opta por simplesmente fugir e deixar tudo para trás.
Dessa decisão, não existe arrependimento, pois não havia outra opção para ela: “o que significa arrepender-se quando não se tem escolha?”

Como anda a nossa relação com meio ambiente?


Nunca o presente e o imediatismo temporal e espacial foram tão valorizados na sociedade humana. Neste contexto, para se ter uma satisfação pessoal plena, os seres humanos baseiam-se na posse material. Não é à toa, já que o verbo “consumir” está presente em praticamente por todos os lados, em todos os meios publicitários, e camuflado nas tendências de moda. E não basta consumir algumas vezes, é necessário “ter” sempre mais do novo, o mais moderno, para “ser” uma pessoa satisfeita e aceita pelos outros. O referencial das nossas crenças e valores deixou de ser o sentimental e espiritual para dar lugar ao financeiro e econômico, permeados pela competição. Nossas relações com outros seres humanos e com os não seres humanos refletem a atual visão de mundo, pois não somos apenas antropocêntricos[1], como também consideramos o outro como inferior a partir de identidade, gênero, raça e poder aquisitivo.
            Neste mundo antropocêntrico, a decisão do que fazer com um ser não-humano é sempre conseqüência da pergunta: serve para quê? Um caso sério de ética utilitarista, no qual um “não” como resposta significa não-valor, portanto. Um exemplo clássico, como seres solitários que somos, é quando cuidamos de um cachorro ou um gatinho porque eles nos fazem companhia e correspondem à nossa atenção com um amor incondicional. Caso não sirvam mais para companhia, ou caso tenhamos outras prioridades, é comum que eles sejam cruelmente abandonados à própria sorte pois, como animais domesticados, não sabem viver sozinhos, ou não possuem condições naturais para tanto.
            Outro exemplo é quando mudamos a dieta comum, que gira ao redor do consumo excessivo de carne, para uma dieta vegetariana[2]. No fundo, a intenção é egoísta, já que ciência afirma que comer carne pode ser danoso à nossa saúde. Além de desconsiderar o valor intrínseco dos pobres e subjugados animais, a nobre ciência ainda os classifica por cores, sendo que a carne “vermelha” deve ser evitada e a “branca”, esta sim, deve ser consumida em larga escala. Esta parece ser mais uma tentativa de amenizar a consciência dos ávidos carnívoros, afinal, o termo “branca” nos dá a impressão de ser uma carne com menos sangue, e até com menos vida e causa menos sofrimento ao ser “produzida”.
            A ideia de que nós, como seres do topo da cadeia alimentar, somos naturalmente carnívoros, não é natural, e sim construída sócio-historicamente. O argumento de que ninguém deve se abster da carne, pois afinal, nós só evoluímos[3] devido a ela, está presente no discurso dos cientistas. O problema é que a ciência é vista como neutra, quando na verdade existem relações de poder ali presentes, que levam a determinados interesses por trás de cada simples ação. Nossa cultura cientificista ainda denomina de “atrasadas” todas as outras formas de saber, tornando o discurso científico o único discurso legítimo.
As visões de mundo mudam através do tempo, em que cada contexto é diferente. Hoje, nosso contexto está diretamente associado ao capitalismo. Além do consumo, citado anteriormente, temos a indústria farmacêutica com seus produtos de baixo custo e fácil acesso – quando supostamente não deveríamos realizar a famigerada automedicação – que desmotivam cada vez mais a prevenção; a indústria alimentícia, dominada por uns poucos que acumulam muito dinheiro, com seu aprisionamento e morte de animais e largo uso de agrotóxicos; a indústria petrolífera; e assim por diante.
Com tudo isso, “a natureza deixou de ser um recurso vivo para se tornar um conjunto de recursos”. Como parte da natureza, nós, homens, também não ficamos de fora, já fomos até explicitamente chamados de “recursos humanos” pelo meio empresarial. Como recurso, apenas os elementos da natureza que “servem” para alguma coisa merecem genuinamente ser preservados. E o resto? O resto pode ser descartado ou simplesmente ignorado.
A educação vem atuando na sociedade como uma instituição que reproduz e reforça as visões de mundo dominantes que nela atuam. E não apenas o lado com relação ao meio ambiente é prejudicado. O universo cultural das nossas escolas e das nossas casas é profundamente perturbado. A educação deveria desenvolver não só o lado crítico e questionador dos indivíduos, mas também o lado criativo. Nietzsche, como grande filósofo da educação, dizia ser a criação a grande motivadora da vida. A vida todos os sentidos deveria ser o nosso grande objetivo, ao invés da busca pela produtividade, pois só o novo nos faz pensar – e não a mera reprodução de métodos e atitudes históricas – e repensar nossas atitudes e nossa visão de mundo. 


[1] Antropocêntrico como prioridade humana sobre as espécies não-humanas.
[2] Uso o termo “vegetariana” ao invés de “vegana” por considerar que a maioria das pessoas adota, primeiro, a dieta sem carne, mas ainda consome os derivados animais.
[3] Lembrando que o termo “evolução” é equivocadamente utilizado como sinônimo de progresso pela maioria das pessoas, o que me faz discordar deste argumento com relação à dieta.